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“A música foi um remédio para a ansiedade” - Campus Sustentável
 

“A música foi um remédio para a ansiedade”

“A música foi um remédio para a ansiedade”

Oi, eu sou o João Lucas!

Sou pesquisador na Unicamp e, nos meus projetos, busco interligar diferentes dispositivos “universos” eletrônicos. Sucintamente, trabalho na área de Eletrônica de Potência, com aplicação em sistemas fotovoltaicos. Mas, não é sobre isso que falarei hoje com vocês. O nosso tema é sobre como estamos passando pelo temível cenário do Covid-19, o qual atingiu potencialmente a nossa pós-graduação.

O cenário de suspensão de algumas atividades da nossa universidade, principalmente no que diz respeito às aulas presenciais, aconteceu poucos dias depois do meu retorno de um congresso internacional. Lá eu apresentei resultados do projeto Campus Sustentável.

Ao chegar ao Brasil, o clima já era de receio, pois realizávamos projetos importantes no laboratório de sistemas fotovoltaicos da Unicamp. Inclusive, o grupo de pesquisa o qual faço parte havia iniciado novos testes de certificação de inversores. Algo importante para levar equipamentos mais seguros e de maior qualidade aos brasileiros. E, sim! Isso também é feito em nossa universidade. Aliado a tudo isso, faltavam dois meses apenas para minha defesa de Mestrado. A sorte era que todos os resultados já tinham sido coletados, o que não prejudicou o andamento da defesa.

Com a quarentena, tudo mudou.

Aquele cafezinho com os amigos no intervalo que gerava diversas ideias, muitas vezes “malucas”, mas que acabaram resultando em trabalhos científicos, não tem mais. O nosso grupo era conhecido na universidade pela união. Ouvi até comentários de outros professores se perguntando o porquê daquela “alcateia” (risos). Isso é o que mais me faz falta durante os dias de isolamento. A união e o respeito dentro e fora do laboratório produzem trabalhos brilhantes.

A orientação é evitar ir ao laboratório. Desde o primeiro dia de isolamento, além da minha defesa, comecei a realização de disciplinas para o doutorado. Desse modo, eu não precisava coletar resultados no laboratório e, por isso, estou recluso desde então. A minha defesa foi feita por videoconferência e foi bem legal, assim como as aulas remotas estão bem produtivas. Em certa medida, a Unicamp já tinha toda uma estrutura para isso, o que minimizou prejuízos.

Nela, as disciplinas são selecionadas de acordo com o desejo do orientador e do orientando. Muitas vezes, elas estão relacionadas às pesquisas. Eu também realizo pesquisas do Projeto Campus Sustentável, que podem ser feitas a distância devido à facilidade de acesso aos dados. Do mesmo modo, busco me aperfeiçoar para ajudar nos cursos de energia fotovoltaica ofertados pela instituição, nos quais sou instrutor.

Meu cotidiano.

Acordo e seleciono as atividades que desenvolverei naquele dia e, para isso, utilizo do Evernote. Faço o meu café e começo estudar. Posteriormente, dou uma pausa por uma ou duas horas para arrumar a casa e fazer o almoço. Isso é uma das grandes dificuldades. Eu amo cozinhar, mas perdemos muito tempo sem o restaurante universitário (RU). Depois, retorno aos estudos e paro novamente, pois tenho que preparar o jantar. Quando estou com muitos trabalhos das disciplinas, peço comida pelo delivery, otimizando o tempo.

A rotina de atividades do pesquisador ocorre todos os dias, inclui sábados e domingos. Isso é tranquilo, pois, na maioria das vezes, as pesquisas são realizadas por amor, já que a maioria dos pesquisadores recebe bolsa com valor bem menor a que o mercado pagaria.

Após a janta, dedico-me um tempo para falar com minha família — isso é muito importante e ocorre todo dia. Depois, geralmente, avalio artigos científicos, uma vez que atuo também como revisor de diversas revistas, e acesso as redes sociais que utilizo para pesquisas. No final do dia, fico com restante dele estudando música.

Aliás, por falar em música, essa foi uma forma de lidar com a ansiedade bem antes da chegada do isolamento. A pós-graduação é algo que exige muito do profissional e é um ambiente que, infelizmente, tem tudo para trazer transtornos psicológicos aos pesquisadores. No meu caso, existe uma pressão/cobrança que eu mesmo coloco sobre mim.

Na pós-graduação, vejo diversos amigos com a necessidade de tomar medicamentos. Este é um cenário triste, mas muitos amam fazer pesquisas e não desejam sair. Acho que a quarentena piorou isso, considerando um cenário mais geral.

No meu caso, antes da quarentena, em 2019, tive crises de ansiedade. Elas aconteciam quando eu voltava do laboratório e estava sozinho em casa, longe da família e coisas do tipo. Fui a médicos que receitaram remédios. Eu comprei, mas desisti de tomar por opção.

Ao invés de tomar remédios, peguei um violão [da minha namorada] e comecei a tentar tocar. A música foi um remédio para a ansiedade. Desde então, não tive mais crises. Logo, principalmente com a quarentena agora, um insight que dou a quem estiver lendo este texto é buscar fazer alguma atividade diferente. Você pode aprender outro idioma, um instrumento, entre outras coisas.

Finalizando este texto, deixo uma mensagem aos pesquisadores: é importante nos unamos cada vez mais.

Já aos poderes públicos, inclusa toda sociedade, valorizem a ciência, titulação e reconheçam os esforços dos nossos pesquisadores. É nessa teia que se constrói o desenvolvimento da sociedade. A atuação dos pesquisadores não pode ser banalizada de modo que qualquer um se auto-intitule, pois, são anos de dedicação.

João Lucas | doutorando em Engenharia Elétrica (Unicamp)| Campus Sustentável

Giovana Sanches | Campus Sustentável – texto imagético